Numa altura em que já estamos em contagem decrescente para o arranque da edição 2024 do Portugal Lés-a-Lés, trazemos um pouco de nostalgia e recordamos a aventura do ano passado.
Em 2023, na celebração da edição dos 25 anos do Portugal Lés a Lés a organização procurou recriar a edição n.º 1. Mesmo ponto de partida, mesmo ponto de chegada, mas agora com percurso mais longo, com mais paragens e, sobretudo, com oportunidade de conhecer, ainda melhor Portugal.
O objetivo era recordar o primeiro ano, o desbravar de terreno que um pequeno grupo de aficionados fez e que, ano após ano, foi crescendo até chegar ao que hoje é.
Cerca de 2500 motociclistas fizeram-se à estrada para o Passeio de Abertura da edição das Bodas de Prata do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal. E por bem empregue deram a ousadia já que a chuva, sob a forma de esparsos e leves aguaceiros, não incomodou quem na estrada passeava. Antes teve o condão de sublinhar os tons de verde e castanho de paisagens de encantar. Uma passeata a dois tempos, com início mais revirado até Montesinho, a aldeia que dá o nome ao parque e que foi visitada pela primeira vez pela longa e heterogénea caravana, e com paisagens imponentes e mais desafogadas no regresso a Bragança com passagem em Rio de Onor.
Etapa 1: Bragança – Viseu (304km)
A primeira conduzia os participantes até Viseu. Durante o dia, tivemos a companhia de alguma chuva, mas nada que nos roube a alegria de estar a viver uma edição única do Lés-a-Lés. O dia foi passado a conhecer ainda melhor uma região que nos é tão querida… Trás-os-Montes, com os seus cheiros e gente afável.
A chuva manteve-se como presença assídua. De Bragança a Viseu, foram 304 quilómetros de estradas panorâmicas, muitas delas inéditas nos mapas da maratona moto turística organizada pela FMP.
Ninguém conseguiu escapar às fortes chuvadas. A caravana deixou Bragança pela Serra de Nogueira por um percurso que obrigava a algumas cautelas adicionais, rumo a Podence, terra dos Caretos. A primeira paragem teve lugar em Macedo de Cavaleiros – onde havia começado a edição de 2005.
O percurso foi-se fazendo a dois tempos, ou com chuva forte, ora com chuva forte, ora com raios de sol. Uma variedade que não retirou espetacularidade à passagem pelo vale do Sabor e do seu afluente, o Azibo, cuja albufeira reforça os argumentos desta região enquanto excelente destino turístico. A “descida” até Viseu foi sendo cumprida por entre deliciosas curvinhas, com passagem por Chacim e Alfandega da Fé. A zona do Douro foi atravessada pelo Pocinho, pela nossa querida Nacional N.º 222, até chegar ao Distrito da Guarda, através de Vila Nova de Foz Côa.
A chegada a Viseu fez-se pela Nacional Nº 16, com a companhia do rio Mondego, atravessado para entrar no distrito de Viseu, momento importante na história da indústria automóvel em Portugal, com a passagem por Mangualde.
Etapa 2: Viseu – Ourém (240km)
Era a etapa mais curta. Parecia ser fácil, mas a chuva não deu tréguas, durante grande parte do dia. A passagem por Gois e a subida ao aeródromo da Lousã foram um suplicio com os bonitos trilhos carregados de água e os pisos enlameados a dificultarem a progressão. Da nossa parte correu tudo bem, apenas com alguns sustos, nas zonas de lama, mas sem quedas – que permitiu não estragar a nossa montada.
Ao contrário do que aconteceu em 2022, em que o intenso calor foi a nota dominante, na edição de 2023 foi o oposto e chuva forte é que se fez notar. De Viseu, começou a sair caravana ainda noite escura debaixo de fortes aguaceiros, que tornou os vários troços de terra batida bastante mais complicados. Rumo a Tábua, oportunidade para descobrir as surpreendentes cascatas de Sevilha, formadas pelo pequeno rio Cavalos, afluente do Mondego. Por entre estrada pitorescas, a caravana lá foi descobrindo recantos de Portugal, como as Cabanas de Viriato, onde se situa a casa de Aristides de Sousa Mendes – que, tal como Schindler salvou dos campos de extermínio nazi mais de 30 mil judeus.
Sempre com a chuva no horizonte, a passagem pela Vila de Coja e Arganil, antes da chegada a Góis. Nas margens do rio Ceira, era tempo de repor as energias até porque a etapa da tarde prometia ser “brava”. A subida até ao aeródromo de Coentral, por troço lamacento pôs à prova os presentes numa passagem que mais parecia digna da edição «Off-Road». E nesta matéria caros leitores, foi um sossego ter nas mãos a nossa Africa Twin com sistema DCT – transmissão automática. Este sistema permite ter sempre o motor “no ponto” certo e até nas subidas mais íngremes – e com 2x ocupantes e malas carregadas – o DCT funcionou na perfeição sempre a transmitir segurança e conforto.
Seguiu a descida até Castanheira de Pera, com estradinhas deliciosas, por Coentral Grande, Sarnada e Pera. Tudo num dia que, apesar de fustigado por grandes chuvadas, acabou com bom tempo em Ourém.
Etapa 3: Ourém – Sagres (425 km)
A última etapa levou-nos até Sagres ao longo de 425 kms. A organização anunciava 10h20 de condução. Um Lés-a-Lés que vai ficar, para sempre, nas nossas memórias, aos comandos da nossa “rainha”, a Africa Twin Adventures Sports. Um OBRIGADO à Honda Portugal e à MotorTur pela colaboração.
A chuva manteve-se sempre presente, mas o sol foi-se impondo e permitiu à caravana fazer grande parte do percurso, com piso seco. O Ribatejo foi o prato inicial com passagem pela serra de Monchique, as falésias e praias quase desertas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, para terminar em grande festa com o Atlântico como pano de fundo.
No Lés-a-Lés, os motoclubes fazem a festa e ajudam a animar a enorme caravana. Cada um à sua maneira procura criar cenários ajustados à realidade e este ano não foi exceção mas, se tivéssemos que escolher um, teríamos que eleger o MotoClube do Ocidente que montou uma manifestação de insetos, também com direito À vida e a “obrigar” os motociclistas a ser comedidos nas velocidades de modo a poupar tão indefeso ser.
A chegada a Sagres fez-se por entre falésias e paisagens de cortar a respiração e uma tranquilidade que não se encontra nas superlotadas praias voltadas a sul.
No final, em jeito de conclusão o bónus de assistir ao vivo e a cores ao pôr do sol em Sagres com sentimento de dever cumprido… e foi assim que recordámos a aventura de 2023, mal podemos esperar pela que já aí vem!
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