O Lés a Lés é o maior evento de mototurismo realizado em Portugal e seguramente um dos maiores a nível europeu. A edição deste ano revelou-se a mais exigente dos últimos anos, quer pelo número de quilómetros percorridos – 1220 – quer pelas elevadas temperaturas que acompanhou a caravana ao longo dos quatro dias de evento.
O Lés-a-Lés é um evento único no panorama nacional e europeu. Desde a primeira edição que mantém características únicas que garantem o sucesso, ano após ano.
A edição desde ano prometia ser escaldante. Aquando da apresentação, a organização alertou para a extensão das etapas e para a necessidade de preparar bem a deslocação. Aos participantes era pedido espírito de aventura, boa disposição e… capacidade de superação.
A 24.ª deste mega-evento teve início em Faro onde os cerca de 2400 participantes confluíram, para realização das habituais verificações técnicas e administrativas e ainda a possibilidade da realização de um pequeno percurso, de cerca de 60 quilómetros, em jeito de “aquecimento”.
Um percurso curto que serve sobretudo para os que vêm de perto poderem passar algum tempo e sobretudo para calibrar os equipamentos de leitura de mapas. Fazem-se os primeiros ensaios, tiram-se as primeiras notas para ver se está tudo devidamente oleado. Houve contudo pontos de interesse, em especial pela visita ao Centro de Interpretação das Minas de Milreu localizadas em Estoi e que testemunham a presença dos Romanos, há mais de dois mil anos, na região; e ainda para nos refrescarmos na lindíssima praia do Ancão que se estende pelo enorme areal de Faro, e cuja circulação nos estava acessível.
Entre os presentes, todo o tipo de motos, sendo as BMW GS – nas mais variadas versões e cores – e pelas Honda Africa Twin as mais populares; mas ainda assim, foi possível ver todo o tipo de máquinas, umas mais turísticas outras menos; umas mais modernas outras nem por isso; umas mais potentes outras um pouquinho menos, mas comum a todas a vontade de cumprir uma travessia por entre montes e vales, e conhecer Portugal como só o Lés-a-Lés sabe mostrar.
O Lés-a-Lés é isto mesmo um evento onde todos convivem de igual para igual, em total respeito, entendimento e de entreajuda.
Etapa 1 – Faro – Castelo de Vide – 440km
A primeira etapa conduzia os participantes até Castelo de Vide, ao longo de um percurso de 440 quilómetros, com a organização a prever um tempo de condução na ordem das 10h15m.
O percurso empurrava-nos para próximo da fronteira com Espanha, com o Guadiana a fazer companhia durante parte do percurso. Um rumo rolante, que conduziu os motociclistas até ao primeiro Oásis, localizado na Praia Fluvial de Alcoutim, junto à Ribeira de Cadavais.
Com as temperaturas a dificultarem a progressão, a caravana seguia rumo a Mértola, onde estava localizado mais um oásis, precisamente junto a um cais, o que “obrigou” alguns expeditos a experimentar a temperatura da água. Tudo servia para refrescar do imenso calor que se fazia sentir. Daqui a caravana rumou a Espanha, para a primeira de várias transições, onde entrou pela Frontera de Ocho. A visita foi curta, ainda havia muitos quilómetros pela frente, e já em Portugal, fez-se por Sobral da Adiça, por estradas bem desenhadas a Safara, coração do Alentejo, onde nos esperava mais um oásis.
Terra quente, Safara recebeu a caravana de braços abertos. Com os termómetros a rondarem os 40º, eramos recebidos no “inferno” como simpaticamente o povo lhe chama. Mas o Lés-a-Lés é bem mais de que um mero passeio de motas, em caravana. É descoberta, é experiência e contacto com as populações. Ninguém fica indiferente à passagens dos motociclistas, numa caravana que se estende ao longo de várias horas – se todos cumprissem os horários, era no mínimo 4h30 para ver passar todas as motas – por isso os “malucos das motas” são sempre bem recebidos e todos fazem questão de enaltecer a sua terra tem de melhor.
Foi aqui que conhecemos Maria do Céu. Safarena de gena, não troca a sua terra por nada. Fã de viajar e de conhecer pessoas logo meteu conversa para destacar a sua terra, quente, muito quente mas com habitantes resistentes e com coração de ouro, que não se inibe de oferecer o que tem na mesa – então uma açorda – a quem por ali para uns instantes. Faz amigos com facilidade e a confirmar está o facto de, de entre as várias visitas ao Porto, ter feito amigos… que curiosamente são amigos deste vosso escriva.!!
Onde o roadbook aconselhava a parar durante (míseros) 20 minutos estivemos uns bem passados 60, e por isso era necessário fazermo-nos à estrada para mais uma boa dose de quilómetros, agora com o azimute apontado a Mourão em pleno Alentejo, onde tivemos o privilégio de subir, de mota, ao Castelo – algo só possível em contexto Lés-a-Lés.
Era preciso chegar a Castelo de Vide mas antes, ainda tempo para passar por Reguengos de Monsaraz e de visitar o primeiro de alguns menires – sim aquelas pedras gigantes que apenas o Obelix as conseguia carregar sozinho. O caminho faz-se andando e depois de cruzar Alandroal, eis-nos chegados a Vila Viçosa, onde nos esperava uma Feira Medieval, inserida no Castelo, e que nos permitiu regressar no tempo, mesmo que por breves instantes.
A caminho de Castelo de Vide, passagem ainda por Borba até paragem obrigatória na bonita localidade de Arronches.
É impossível escolher “aquela” passagem que mais nos cativou porque são inúmeros os pontos de interesse ao longo de todo o percurso; mas se temos de escolher apenas um “waypoint”, seria a ponte internacional, situada em Arronches, que une a povoação de portuguesa de Marco à espanhola de El Marco. Uma ponte que, brevemente se tornará pedonal e que certamente ficará na memória de todos os que tiveram oportunidade de a cruzar – ainda por breves segundos dada a sua pequenez – numa mota. Bravo organização do Lés-a-Lés.
Depois de uma breve incursão por Espanha, percebemos que regressamos a Portugal pelo apertar da estrada, junto a S. Julião, já a chegar a Castelo de Vide onde estava marcado o final deste primeiro dia “à séria”.
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